Experiência pessoal

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06 de julho de 2009

Há 2 meses seguia o tratamento com a paroxetina, originalmente por causa de um surto de stress, resultante de várias outras coisas que decidiram acontecer ao mesmo tempo na minha vida. Comecei com doses de 10mg/dia e em algumas semanas passei para 20mg/dia, que me ajudou e muito a superar aquela crise.

Mas àquela altura já estava cansado e com medo de possíveis efeitos do medicamento. Como antidepressivos não são brincadeira e não devem ser tomados a esmo se seu uso não é mais necessário, decidi começar a diminuir a dose, conforme recomenda a bula, para então parar o tratamento. Estava tomando 20mg/dia há 2 meses, e neste dia passei a tomar apenas 10mg/dia. Fora isso, tudo normal.

11 de julho de 2009

Após 5 dias tomando 10mg diariamente, comecei a sentir alguns repuxos musculares, como aqueles que a gente sente no canto do olho. Achei que fosse o tratamento com a paroxetina que estivesse causando isso, e não a diminuição da dose, então optei por cortar a medicação, achando que o período de redução já estava suficiente. Engano meu!

12 de julho de 2009

Comecei a sentir uma tontura estranha no final do dia, mas não dei muita bola - imaginei que fosse passageira e iria acordar bem no dia seguinte.

13 de julho de 2009

Acordei e a tontura aumentou. Mas ainda assim não sabia como descrevê-la. Era como uma sensação estranha na cabeça ao movimentar os olhos, principalmente ao mudar o foco ou ao olhar de lado, com o canto do olho. Também sentia como se pudesse sentir meu batimento no ouvido, ou algo assim, como se houvesse alguma pressão no ouvido.

De início, cogitei ser o começo de uma gripe ou o de uma infeccção comum de ouvido.

14 de julho de 2009

De novo, a tontura. Estava altamente ansioso, com uma sensação estranha no corpo todo, como se estivesse com pressão alta, não que eu já tenha tido isso algum dia. Medi a pressão, mas estava tudo normal. Aliás, um pouco baixa para mim (12/6), comparada com o meu normal (14/8). Conseguia sentir meu batimento em qualquer parte do meu corpo, pulsos, mãos, braços, barriga, ouvido e até na sola do pé.

Neste dia fui ao Oftalmologista, pois já havia uma consulta marcada a tempos. Aproveitei parar fazer todos exames de rotina: pressão do olho normal, continuo míope, não sou daltônico e exames de fundo de olho normais.

15 de julho de 2009

Estava suspeitando de algo no ouvido, por causa da "pressão" que eu acreditava estar sentindo. Encontrei altas coisas bizarras na internet que não me ajudaram em nada. Ouvi falar brevemente da doença de menière, mas não achei que me enquadrava nos sintomas.

Também tive sonhos surreais nesta noite, incluindo pesadelos vívidos que não iam embora quando abria os olhos. Não estava muito preocupado, pois essas coisas poderiam acontecer com qualquer um numa situação de stress ou ansiedade dessas.

16 de julho de 2009

Fui ao otorrinolaringologista, suspeitando que a tontura pudesse estar relacionada com alguma coisa no ouvido. Ouvindo minhas reclamações sobre a minha tontura estranha e incomum, sem dores de cabeça nem vertigem, e minha sensação de "pressão no ouvido" (que na verdade era na cabeça e no corpo todo, onde quer que eu decidisse sentir) o médico suspeitou de Menière.

Caramba, essas coisas sempre acontecem comigo. Eu acabo de ler sobre alguma coisa que nunca tinha ouvido falar antes, e pouco tempo depois alguem surge falando desta mesma coisa. Acho que sou clarividente! Deixou alguns exames para eu fazer na semana seguinte.

17 de julho de 2009

Fui à um clínico geral, antigo médico de família, mas nunca havia me consultado com ele. Levei todos meus exames, expliquei toda a história a ele, e provavelmente pareci um hipocondríaco porque a) cada hora tentava explicar um dos sintomas que tinha b) estava ansioso e não conseguia achar as palavras certas. Deixando a conversa de lado, o médico fez um check-up geral, verificou labirintite e até hernia e tireóide. Viu meus exames e concluiu que, numa escala de 1 a 10, meu estado físico era 10, perfeito. Foi obrigado então a dizer que os sintomas eram de fundo emocional, o que talvez poderia ser verdade. Mencionei que havia interrompido o Pondera e ele recomendou que eu voltasse à medicação. Mas como já havia uma semana que havia parado, achei que era melhor continuar sem do que inserir do nada os 10mg no meu organismo novamente.

Obviamente, não há como um doutor conhecer todos efeitos de todos medicamentos, mas a indicação dele foi certa. Comecei a desconfiar do descontinuamento do Pondera, mas não achei muito a respeito na internet. Ainda não tinha encontrado as palavras certas para procurar sobre o assunto na internet, simplesmente porque não conseguia descrever corretamente meus sintomas.

Aliás, falando nisso, notei que não estava conseguindo achar as palavras certas em várias ocasiões. Também estava errando mais ao digitar, mas achei que resultado de toda ansiedade e stress.

18 de julho de 2009

Tenho dormido e sonhado demais! Ainda bem, pois estava acostumado a dormir muito pouco, mesmo antes de tudo isso começar. Correria, faculdade, vários projetos, artigos e relatórios para entregar, mesmo nas férias! Ainda bem, pois adoro sonhar e lembrar o que estava sonhando. Dificilmente lembrava meus sonhos, mas desta vez, poderia jurar que eram reais e não identifiquei que estava sonhando dentro dos sonhos. Geralmente acordava quando descubria que era sonho. Ainda bem que não são mais pesadelos!

20 de julho de 2009

Descobri o site http://www.quitpraxil.org e tive o maior alívio do mundo: dezenas de pessoas passando pela mesma situação que eu, com os mesmo sintomas indescritíveis que fariam qualquer doutor nos julgar insanos! Os sintomas estranhos ao mover os olhos, os 'choques', a hipersensibilidade, dificuldade em achar as palavras certas... Tudo!

Deixei de me preocupar e me senti bem melhor. Decidi criar este site para ajudar quem mais estiver passando por este processo e divulgar mais os efeitos da reação de descontinuamento do cloridrato de paroxetina!

21 de julho de 2009

Hoje fui fazer audiometria e exames vestibulares, conforme o otorrinolaringologista havia indicado.

O sintoma estranho ao mexer os olhos está muito mais ameno hoje. No entanto, meus labios, lingua e bochecha estão com um formigamento muuuito brando, mas ainda perceptível, como outras pessoas relataram. Estou totalmente despreocupado, pois sei que eventualmente tudo isto vai passar.

Após sair da clínica onde fiz os exames (que tenho certeza estarem normais), aproveitei para dar uma passada no shopping, entrei na Saraiva, peguei um livro sobre psicologia qualquer e abri justamente numa página que tratava sobre psicofármacos. Acho que sou vidente mesmo. Na mesma página achei a palavra certa para outro sintoma que estava difícil de descrever: fibrilações musculares.

Fibrilações ou fascilações musculares - é o nome dado aos movimentos rápidos e involuntários de um feixe de fibras musculares, não fortes o suficiente para efetuar um movimento, mas que podem ser observadas facilmente apenas olhando o músculo afetado. Similar àquelas palpitações, repuxos no canto do olho, perto da sombrancelha, que todo mundo tem de vez em quando. Em inglês este sintoma é conhecido como muscle twitches e é um dos sintomas da diminuição da dose ou interrupção do tratamento. Foi o que me apareceu logo na primeira semana!

22 de julho de 2009

Acordei com o formigamento nos lábios e na língua um pouco mais forte; mas que agora está no mesmo nível de ontem, bem mais fraquinho. Na verdade parece mais cócegas que outra coisa. Também acordei algumas vezes com o braço que estava embaixo do travesseiro dormindo, bem, obviamente porque eu é quem estava dormindo sobre o braço. Fora isto, tudo anda bem!

Acho que estou dando risada muito mais facilmente que meu normal, apesar de mudar de humor e ficar irritado de uma hora pra outra com frequência. Mas acho que este era o meu normal antes de começar o tratamento!

24 de julho de 2009

Acredito que a maioria dos sintomas estão muito mais amenos. A sensação de cócegas na boca está bem menor.

5 de agosto de 2009

Quase um mês depois, as coisas já estão muito mais normais. Nunca mais tive aquela tontura, nem as crises de ansiedade. Ainda bem! Quase tudo ocorreu como descrito no site QuitPraxil.org e sou muito grato por aquele site existir. Decidi criar este blog para ajudar pessoas que estejam passando pelo mesmo!

21 de setembro de 2009

Notei um certo aumento no número de pontos flutuantes na minha visão, e descobri que este é mais um dos possíveis efeitos colaterais/efeitos da descontinuação da paroxetina (e de outros antidepressivos da mesma família)

21 de setembro de 2020

Todos os efeitos passaram relativamente rápido. Ao final de 2009, já não tinha mais nenhum sintoma; e por causa disto, acabei me esquecendo de voltar aqui atualizar o site para contar o desfecho desta história. Mas hoje, dez anos depois da minha experiência, posso trazer algo a mais: dizer que a síndrome de descontinuação não me deixou absolutamente nenhum efeito permanente. Segui com minha vida, me formei, fiz mestrado, doutorado, publiquei nas maiores conferências do mundo, fui convidado para trabalhar numa das maiores empresas da minha área, e hoje moro no exterior. A Paroxetina me auxiliou durante o tempo que a tomei, e a reação de descontinuação, apesar de ter sido árdua, se tornou apenas mais uma história que tenho para contar :-)